Almas

20180513

fotografia

Há uma fotografia na minha cabeça de um tempo que nunca virá. E nela residem todos os amores que conheci rindo juntos. Por vezes desejo intensamente que as coisas não se tivessem tornado em vazios de sentimentos caóticos. Gostava que a N estivesse aqui, que o H nunca tivesse partido e que eu pudesse conhecer todos os amores delxs. Se há coisa que eu queria mesmo é que fossem felizes. Espero que sejam. Egoisticamente pensando só queria que estivessem aqui, nunca tivessem seguido os seus caminhos sem mim. Que dessa fotografia na minha mente se materializa-se uma mesa cheia de gente boa, que pudesse sorrir sabendo que todas as mágoas sararam e onde nós todos, pudéssemos disfrutar da amizade que tínhamos. Como uma grande família. Se há coisa que lamento é ter perdido todas estas pessoas e que todas elas tenham desvanecido da minha memória como se os contornos das suas formas se perdessem lentamente dia após dia. O problema das pessoas não ficarem, é criar em nós uma ânsia demasiado urgente de reconstruir tudo o que perdemos dentro de nós. Uma compensação exagerada ou uma tentativa de substituição de rostos afectos memórias vultos e sentidos para não termos de sofrer. E o problema de não querer sofrer é tentar remediar tudo imediatamente, o que nos desgasta e consome. Queremos passar por cima da dor, a tal ponto que a jeitos de que em uma década ou duas nos perdemos também de nós próprios e é desta forma que nos tornamos irrecuperáveis, até para nós mesmos. Perdemo-nos para sempre em pedaços que tentamos matar junto das pessoas que vão. Como se esses pedaços lhes pertencessem. Às vezes só queria não sofrer, como uma criança imatura que não sabe que os monstros têm formas mais medonhas do que as da própria imaginação. Que esses monstros se vestem como nós, falam como nós, comem como nós. E esses monstros fazem coisas más que nos levam pessoas e nos roubam pedaços de vida. Se a fotografia pudesse materializar-se, abraçaria cada um delxs, um a um, com tempo para ouvir o mar que sopra dentro deles e encostaria o rosto nos seus peitos e cheiraria o sargaço que os preenche. E pedir-lhes-ia perdão, se de alguma forma eles me perderam ou não me encontraram antes mesmo de eles decidirem partir. Tudo o que lamento por fim é a existência da memória. Uma vez a N disse-me que esquecermo-nos de como as coisas eram talvez fosse uma espécie de bênção. Como gostaria que fosse verdade. Começar de novo como se tivesse sempre vinte anos. Como se nunca me tivesse conhecido. Como se nunca os tivesse conhecido. 

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