Almas

20180702

Loop

Mas não há nada melhor que a chuva para sentir o céu acima de nós.
Reage caralho. Foge ou morre de vez. Mexe a carcaça ou o cigarro apaga. Corre rio adentro ou morre de vez.
Que puta de ideia é essa de querer arrancar a morte com os dentes e esperar que a vida te mande mensagens?
Se o defeito é estar sozinho porque é que o mundo soa melhor sem mim?
Que se nada doer tudo passará. E mulheres serão felizes sem mim.
Que exigir a presença é injusto mas necessário. Que nunca ter crescido é uma faceta medonha da toxicidade que porto comigo.
Eu queria ser diferente antes de partir. Mas não me garanto e engane-se quem me tem por garantido porque eu não existo se decidir.
Que provoco o mal e me torno a negatividade de alguém que transporta um demónio.
Que morrer é fácil dizem, mas como será sobreviver? Qual é a glória de tentar mais um pouco de loop? O loop. O loop. O loop.
Nada é definitivo. Nem a chuva nem o rio. Nem a noite nem o frio. Nem o vento nem eu. Curvas de tempo.
Temporal. O tempo e quem habita.
Decidir é agir e não esperar.
Talvez devesse correr mas prefiro molhar a cara.
Mas demasiada chuva incomoda e então movo. Insuficiente força. Insuficiente estrutura. Não me decidi hoje.
Se me atirasse à água será que o rio abriria um espaço para não me afogar?
Mas tenho medo do colapso. Ou se alguém me salva num estado já irreversível? Seria destino?
Devia correr de forma assertiva e finita.
Ou agir como alguém-homem. Que talvez letras minúsculas componham mesmo o meu nome. E eu sou o que sobra de mim porque já não me sei montar.
Estou cansado.
Devia morrer mas a puta da chuva deixa-me acordado.
Estás a 2km daqui e só te queria nos braços. Estás a 2km daqui e esses braços não são meus. Se não hoje amanhã.
Que essa casa não existe. Não é para lá que voltas. E eu sou mau. Não sou o que querem de mim. Traidor mas não o suficiente. Não normativo mas não o que baste.
Foda-se não sou ninguém. E digo tudo o que te magoa.
Morro ou fujo de vez? Não vou mas não sei ficar.
O melhor a fazer é pegar no amor e mandares-me embora. Não se carrega a toxicidade do outro por tempo infinito. E mudar é o quê? Curar-me?
Não acredito em mim, não o devias fazer por mim.
Conheço o monstro e o cabrão não se afoga.
Conheço-me feio e a beleza que já viste era só um reflexo teu.
Não sou um espelho mas sei reflectir o que pensam de mim.
Foda-se. Manipular é uma arte dos doentes. Fingir é a cobardia dos homens maus.
Sou um resto de chuva. Ácida. Queimo. Fodo. Com tudo.
Só queria ser amanhã. E o resto do fim do mundo. Que à noite o rio são mil anos.
E nenhum passa devagar.
Que eu devia correr, mas enterrei os pés por ti e fodi-me todo.
Quero morrer mas não sei morrer sem ti.
Foda-se. Não quero ser sem ti.
Nem antes nem depois.
Tentei correr à chuva. Segui estrada fora longe. Olhei para trás e não te vi. Estavas lá eu sei.
Peguei na chuva e voltei. Acendi o cigarro outra vez e cresci. Parecia uma alma envelhecida e mesmo assim não morri.
Foda-se não sei o que faço aqui. Mas acredito no que tens para mim.
Desistir-não-desistir. É como tentar não gostar de ti. Se me mandares embora eu vou. Se me disseres aDeus eu mereço. Se eu morrer não deixes lixo na minha campa. Mas podes cuspir para o chão. Eu mereço o nojo de ser a herança de um cristão. Desamarra-me as pontas. Quero sorrir.
Amor. Quero dormir.
Foda-se. Porque é que preciso de ti?
Não-verdade. Preciso de mim.
E hoje eu não morri.
Hoje eu não morri.
Hoje eu não morri. [loop] até ao fim de mim.

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