Almas

20180409

meu poema 23


Queria dar-te um poema mas não conseguia chorar
Escalei sob uma montanha de seda e vesti-me para ti mas...
Queria ser puro demais e gastei-me no chão em forma de boneco de gelo enquanto a neve passava pelo tempo de inverno.
No escuro molhado dos corações tristes lutei contra um fantasma de preto que só me queria ajudar, apenas porque não sabia o que ser com o que me amavam.
Eu, fui feito de pó e escolhido pelo mar para ser sal
Da noite brava e medonha me fundiram em olhos de mel para que te vissem
E do fogo líquido me pintaram num manto que te pudesse cobrir.
Sabias que eu fui jogado pelas águas revoltas e cuspido como um corpo sem folgo para te abraçar?
Eu. Baga de luz em campo de trigo e centeio. Caixa de flores e café negro para ti. Vassalo de um qualquer deus pagão. Caminhei sob um chão de lágrimas e picos celestes para perceber que ser homem só não chega para cuidar de ti. Se alguém puder cuidar de ti sem seres tu, flor maior.

Meu amor,
Que ser de ti um pedaço é ser mulher e ver mulher sem ser na verdade.
E aprender a ler às escuras foi um só ditado sem erros para saber escrever sem medo em tuas costas.

Meu amor,
Que ser homem só não chega para te guardar o ventre e te esconder na alma o que sinto.
Pensar sobre ti à noite é saber acordar feliz de manhã e mais saber,
Que por vezes as histórias são um fragmento de tempo perdido num espaço sem lei
Numa vida sem tintas, numa tela sem fundo, num pincel sem mãos.

Meu amor,
Que ser homem só não chega para ti e eu ousei ser mais mulher.
Crescer como um dente de leão e esperar que o vento me desfizesse no tempo para ti e me partisse no sorriso da maldição de ser frágil.


Meu amor,
Que ser homem só não chega e eu olhei em redor e fiz-me das mulheres que me ergueram e senti ser estéril nas tuas mãos.
Que ao menos ser hábil e fêmea é ser força viva ao meu olhar, mas eu não sei sentir como tu.

Meu amor,
Que não me lembro de tudo o que fiz para chegar até ti.
Mas voltar depois de tantas vidas é acreditar que somos mais que corpos sem histórias e um destino fugaz.
E se tudo isso é uma bênção então eu te venero as hostes.
Eu te envolto a miséria e me desgraço em perdão para que não tenhas nunca de te arrepender ou magoar por estares perto.
Foda-se se te largo da mão e me esqueço.
Ó, foda-se eu não te quero esquecer.
Não, isso não é uma espécie de bênção. Não, isso não é uma espécie de compaixão.
 
Ter-te é a bênção. Ser-te é a vida. Tocar-te é o profundo do céu. Chegar-te é saber sorrir para os astros que te habitam. Se eu te habito.

Iolanda é ser todas as coisas abaixo do céu.
Amar-te é ser eu. É ser tudo. E nada. Amar-te. É ser. Eu.

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