fomos engolidos pela peste e chamamos-lhe amor. acordamos nos
braços de alguém que não nos quer e pedimos licença para parar a dor que nos
atinge. sufoca. esmaga. se são as palavras que nos
cortam, o que são os olhos que nos despem quando o sexo não presta?
que fedor. sinto a alma partida em pedaços de merda de um animal
doente. morto. apetece-me bater. em mim mesmo. com um bastão
calejado que reúna a força de três deuses e a cobardia de um poeta. quero
partir e esquecer que fui alguém com um significado belo. quero chegar sem
ser ninguém para que a expectativa seja a totalidade de um vazio de
infinidades. tudo. nada. nunca ser um meio termo. preto.
branco. nunca cinzento. entre o espaço dos ossos ao coração,
cabem quantos quilos de dor? é que a noite aperta-me o vício de ser
decadente. se tudo o que é bonito me traz tristeza, como posso
olhar as coisas feias sem ver o final intimo da vida? o escuro tem muitos
nomes, silêncio. o escuro tem muitos nomes, ansiedade.
o escuro tem muitos nomes, foda-se, pânico. o escuro tem
muitos nomes, ciúmes. quero ser uma puta e foder com o coração, enquanto
finjo que gosto que finjam que me amam o corpo. quero ser a morte e sê-la
de verdade. desligar. terminar. expirar. desaparecer. indagar
a memória. preencher uma caixa de memórias com papel de fotografia. quero ser
passado e partir sem ressentimento de sentir que és feliz. sabes que não confio
mais em mim para garantir que sou um homem são? sou um homem besta. não
sou um homem. não sou uma besta, mas faço sentir-me assim e acredito que
me perdi algures num tempo melhor que este. o que resta de mim não ficou a
salvo. não é são. não quero parar para descobrir. se parar o tempo agora
vou ruir as sobras de mim mesmo. não posso ouvir que me digam que fiquei
novamente partido. não quero saber que parti de novo. depois de tanto
tempo. contigo. partido. no chão. não posso admitir que tu,
enquanto ser me partiu desde o miolo e me roubou. sou um animal
ferido. estou no chão e não me vejo. não quero parar para ver
como estou. o que resta. o que sobrou . se essa puta partir sem
mim, leva-me consigo sem saber. e eu só quero morrer. preciso
de morrer. amor, deixem-me morrer. eu preciso de ir. e.
eventualmente. voltar. a ti. e se estas tuas palavras cortam, é
então, isto, aquilo que mata.
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