existiu vida nas montanhas do
norte. talvez nunca alguém tenha pensado em quantos corações perdidos podem ser
guardados na carruagem de um comboio de sabão. a tua modéstia sempre me causou
dano. se aquilo que desejas não sou eu, quem te deu o direito de trincar para
tirar a prova? é que os teus dentes de prata cravam-me a pele e doem, porque.
eu vivo no escuro, sabes? quem te trouxe para estas terras avisou-te que aqui o
amor é mais intenso? que o rio tem um nome mais salgado do que as lágrimas das
princesas? aqui, o que é doce também amarga. é como tu. se ficas ou vais. um
dia queria ver o teu país. dizes que os montes são brancos e se assim é, de que
cor é a pele das estrelas que caem neles? porque eu gosto de cores, sabes? mas
prefiro sempre as tuas, é como quem te escolhe para seres a mais bonita. a luz
que resplandece de ti é a que que eu gostava de ter para me iluminar. gostava
de te conhecer de novo noutro tempo. noutro sítio. só nós. teríamos mais sorte,
talvez. poderíamos escolher não ser o que fomos antes. eu não seria virgem e tu
não serias de longe. às vezes pergunto para onde irei quando tudo acabar,
porque é isso que me aflige, o medo do fim, sabes? sempre quis ser mais do que
aquilo que era, mas nunca fiz por ser mais do que aquilo que me deixavam ser. a
expectativa de se esperar um dia para se ser o que não se foi antes, transforma
a vida numa espécie de morte antecipada. é do género, espera que logo cantas.
mas cantas o quê? que som? que melodia? que letra? quando o momento chega
actuas de que forma, se não treinaste antes? mulher, eu nunca soube amar antes,
como é que poderia acertar contigo? é como esperar aprender por ler nos livros.
mas e na prática, como faço para te pegar na mão e arder? para te encostar a
boca e não parecer perverso? mecânico? porque amor é mais do que encostar a
boca, não é? amar é um sentimento dos olhos que não vêem, não é? sabes? eu
apaixonei-me por ti e doeu esquecer que aquilo que fazias não era igual ao que
esperava de ti. que as palavras são mais susceptíveis a magoar quando queremos
afastar alguém. ou manter alguém como recluso. mas foda-se, que importa ser
livre de dar às asas se não temos um sítio para pousar? para descansar, sabes?
a tua pele tem o cheiro da baunilha mais sexy e o teu corpo já foi mais destrambelhado,
mas é disso que eu gosto. de te querer tirar a camisola de lã que trazes do
país dos montes brancos e descobrir que há linhas e curvas que não se vêem
quando está nevoeiro. um dia gostava de subir a um lugar mais alto e gritar
tudo o que me apetece. o vento tudo levou? mas levou para onde? será que as
palavras batem nos montes do teu país e por serem fortes demais se transformam
em pedaços de algodão para que não doam tanto ao tocar na superfície das coisas
tristes? é assim que vocês pintam o mundo, não é? o branco serve de cegueira a
tudo o que é doloroso? o branco serve de gelo a tudo o que pode doer? é por
isso que vocês não sentem? ficam à superfície de tudo o que pode ferir.
intoxicar. rasgar. dilacerar. ficam à espera que os comboios partam e larguem
corações perdidos nos países vizinhos? de onde vieste, morena? a tua modéstia
sempre me causou dano e aquilo que queres não sou eu. e tu. és só dos montes
brancos.
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