cada vez que a primeira for a
primeira grande vez. cada vez que voltares nunca mais serás a mesma. porque
quem vai, parte para voltar um dia. diferente. transformado de tudo o que foi.
somos maiores que a vontade de morrer. somos menores que a vontade de ir e
nunca seremos maiores que a vontade de amar alguém. por isso vamos. devastando
tudo em redor. com a coragem de destruir tudo aquilo que nos sustem, arriscando
perder tudo aquilo que somos. em metade somos mais do que não ser nada. mas não dependemos de alguém para sermos inteiros. ainda
assim não compensa ser-se tão pouco, quase vazio. ah, o vazio é amargo. o
chocolate é negro. o passado é sempre triste. porque é passado e acabou. não é
felicidade, é nostalgia. tomamos por garantidas as memórias como se fossemos
capazes de as replicar uma e outra vez no presente. a rotina é tomar por
garantido o momento, as pessoas, é saber que ele está e estará lá. perde
importância. não se arrisca mais. dá-se o empenho aquilo que é novo porque nos
faz sonhar mais alto. faz-nos ser mais. a rotina consegue questionar-nos sobre
o que há além dos fios de ouro e das costas mouras. aquilo que sabemos não
chega a tudo o que ainda queremos saber. experimentar. estar-se só é uma
condição divina. admirar toda a criação em redor. o ritmo das coisas. os passos
das pessoas. as cores das montras. as gotas de água nas janelas. as poças no
chão. os animais abandonados. os ossos cruéis.
o frio na pele. a fome. as roupas molhadas. é tão fácil sair de casa para se
ser diferente. é tão passivo ficar-se quando já se sabe o que se vai encontrar.
a expectativa desflora o entusiasmo, o conhecimento o inverso disso mesmo. já
não tenho de te dar o que sabes que vais receber. se já sabes como é receber de
mim, optas coleccionar o que é receber de outros. é substituível a forma de se
ser. é comum, já ninguém é extraordinariamente belo, único. não. aquilo que tu
és, não é mais do que o espaço que ocupas. do tempo que te despendem. se não
existires, libertas o mundo e o mundo de alguém. não fazes nada aqui. ninguém
te deve nada. és um corpo facilmente substituível. não sejas ingénuo. o amor
não existe. o que existe é a ideia de amor concebida para reduzir ingenuamente
a criação humana. a coragem. não é preciso ter coragem, basta ter vontade. o
medo. o medo não te impede se esse medo não existe. o que existe é a ideia de
medo. um passo antes. de saltar...
...aqui jaz. joy
Sem comentários:
Enviar um comentário