vem de mansinho. vai chegando ao
de leve e corrompe-te o ser. a dúvida. o infinito da questão. do nada és apenas
a dúvida. o que ela te resta. o que ela te deixa. vem de mansinho. vai chegando
ao de leve e come-te a alma, vivo. perdes a confiança naquilo que era mais
sagrado. e mutilas. cortas os membros que se gelam para sentir como é. ir mais
além. sair de onde te deixaram. encontrar alguma existência dentro de ti. foderam-te
com amor. abriram as fendas e bazaram. arrastas o corte com medo e seguras
firme. pousas enquanto a vontade vaza. observas. como é percorrer a ardência e
ver escorrer ao de leve, de mansinho. para onde vai, por onde vai até cair no
chão? o que te deixa? a dúvida? leva contigo a confiança com que te aspiravam
cegamente. os dedos tremem. gelam. quem estará cá quando eu cair? tudo seca. a
dúvida é uma mulher de muitos homens. a confiança uma colher de poucas bocas.
ou alimenta ou deixa à fome. se vai, dificilmente volta. onde estão os teus
sentidos? essa cama de rede onde baloiças de olhos em vão. nem é vazio, é fome.
tapa-me a boca e enche-me o peito com a tua saudade. melancolia. ingrato.
sempre me senti ingrato. o destino é um cabrão. é um saco de sementinhas ruins.
ervas daninhas que precisam de ser arrancadas. mas eu não sei cultivar, seu
cabrão. vens de mansinho. vens chegando ao de leve e enganas-nos uma vez mais. vens
ao de leve, trazes o que mais te convém. o que sobra dos ricos. carregas no
botão quando te apetece e o jogo vira roleta russa. confiança. coragem.
disparar. morrer. quantas vezes tem um homem de morrer para não confiar em mais
ninguém? para entender o infinito? para não amar com desejo? para não querer?
para não esperar? para não confiar novamente? para não perder? quantas vezes um
homem tem de morrer para sarar? quantas vezes um homem tem de matar? quantas
vezes morri? quantas, seu cabrão?
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