leve. escorregas no ar e olhas em
frente. encontraste um achado no traço que desenhaste na pele. olhas em frente,
como se o ar entrasse fácil nas narinas. comes um chocolate. será depressivo? é
consequente gozar com a vida? qual é a regra de ser certinho? não infringir os
valores que te põe de pé? trair a nós mesmos? olharmo-nos de forma diferente?
chegarmos ao espelho e gritarmos «corrupto»? o que dói mais que o cansaço? que
a ardência? que o estalar da pele enquanto a lâmina nos traça? esvazia a mente?
centrar os pecados nesse pedaço de lugar onde concentramos também a fraqueza. o
pecado é a fraqueza. ou vice-versa. infringir as leis de nós mesmos. correr
atrás do que renegamos. cair no abismo e tentar trepar. fingir que a maturidade
nos deu o que queríamos. que alcançamos a mesma merda que os nossos
antepassados. tudo fakes. tudo arquétipos de modelos já usados. protótipos uns
dos outros, fingindo a beleza de se nascer. dar ao mundo nada mais que um vassalo
para sofrer. quem perguntou se eu queria ser feito? um projecto egoísta. decidir
dar à luz. conseguir cantar. perder o sufoco. abrir um traço na pele para
drenar tudo o que não se vê. para sentir vida além da tristeza. não precisar de
mais nada. estar satisfeito. ser perturbado mas estar contente. cegamente leve.
é tão fácil ser-se a ruína de nós mesmos. deixar de lutar. cair. ir atrás do
que o fundo puxar. entrar no jogo. deixar cair as barreiras que impedem a luta
do bem contra o mal. entregarmo-nos ao lado mais escuro. não querer saber. que
adianta ser-se bom? toda a vida bom? há quem diga que não acredite no castigo
eterno, então resta aproveitar. deixar cair a máscara e sofrer afirmadamente. e
gritar no espelho «deixei-me corromper pelo fracasso. quero ser o que resta
depois de não lutar mais. cansei. desisti. corrompi-me.»
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