suspira de mansinho. um ultimo sopro em
que o coração reluz. é severa a expressão desenhada pela doença. lava-se o
corpo uma última vez com água benta. fecham-se os olhos, mas abre-se a luz numa
porta para nós desconhecida. dão-se lágrimas ao desespero, é cruel ser-se vivo
quando tudo em nós morreu. vai-te, comece a despedida e sofra assim minha alma.
entregue-se à terra teu corpo em casca de madeira, fiado a uma profecia cheia de
ateísmos na própria crença. ser-se por si só é um fracasso. deixa-se a roupa,
mas leva-se o cheiro, esvanece-se carne e osso em pó e resta nada. um fiasco na
própria criação divina, ou será esta a soberba exponencia da arte? alimenta-se
a dor, escava-se a paz em lágrimas que só encontram chão. e aguarda-se. que o
tempo vai e não volta, que o presente para, que a saudade é tamanha e
o reencontro breve. então aDeus, o que é de Deus se nunca o ser foi nosso. alma
e vida, que o que começa nunca acaba nas memórias da mente.
"deixa-se a roupa, mas leva-se o cheiro", essas palavras abriram uma fenda no meu peito, é cruel e impetuosa a tua escrita porque nos toca diretamente na parte mais íntima de nós. é bom guardar no coração o melhor e o pior do passado, faz-nos crescer, mas é importante deixar que a vida ganhe lugar ao lado da saudade, não te esqueças do agora de que tanto falas. amo-te, meu querido.
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