Almas

20131030

não serei freguês


lanço canas de pesca ao desamparo. marés de venenos e petróleos desguiados ao engano. nem peixes, nem sermões, e eu era tão bom em ouvi-los. 
de que adianta ter fome sem ter pão? o fim é um culminar de aparições que te mudam o apetite das visões enxergadas no passado. 
pesquei dois sois, mas matei uma lua. esta praia está deserta e esta chuva de pronomes lavou toda a gente em mágoa. calco sementes do demónio, as trevas cozinham-me ervas daninhas e enquanto como, não mato mas engordo, às garfadas de mentiras vegetarianas. tão cru que nem me sinto. asas de vento em ares de tempestade. águas dopadas em perfumes de defuntos. ceifeiros em bagagens de chegada para que os vivos não aterrem na praça deste mercado. só minha alma marralha:

como fui sem nunca ter chegado?
como parti de onde nunca havia pousado?

oh morte não serei teu freguês. tão cedo é o luar quando trazes fios de pesca sem sustento.
oh amor, também não serei freguês. não como, só bebo choros de inferno em mares de chamas, tempestade. e fosse essa a minha fome.

Sem comentários:

Enviar um comentário