Almas

20130206

alcatraz


alcatraz 29091949. prendi-me em visita à ilha. agarrei-me à solitária e parti os ossos do meu pescoço. rasguei a pele e paralisei as pernas para que não andassem no tempo. fiquei lá, no tempo. na sala em que o medo chamava a morte de amiga para que esta lhe vendesse os seus defuntos. prendi-me, mutilei e quebrei os sorrisos de quem me dava vida. arrastei-me às lágrimas das dores e o tempo não foi tempo, mas passou. solitária, não é nome para uma cela assim. não é solitária porque não é vazia. uma sala comigo nunca será vazia, pois a alma que carrego está cheia de nadas sentidos, está cheia de pedaços de mim, de espelhos quebrados por partes mentidas, de dores agarradas ao inferno, de choros gemidos como os das alminhas daquela curva. está cheia de desamparos de amores de costas voltadas, está cheia de flores mortas com cheiro a tristeza. e tudo isso vem de mim, tudo isso me enche enquanto preencho a solitária. tudo isso me preenche com mais força do que um mar enraivecido, do que um fantasma à procura de paz, do que um homem morto de amor. com mais força do que eu pude alguma vez julgar. com mais força do que a própria morte me pode trazer, com mais força que a despedida de vós. somente com mais força ainda do que o olhar feliz onde tens amor. e com mais força que o amor é tão difícil, é tão insano e solitário. é tão preso ao passado. é passado. liberto. alcatraz 28042012

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