alcatraz 29091949. prendi-me em
visita à ilha. agarrei-me à solitária e parti os ossos do meu pescoço. rasguei
a pele e paralisei as pernas para que não andassem no tempo. fiquei lá, no
tempo. na sala em que o medo chamava a morte de amiga para que esta lhe
vendesse os seus defuntos. prendi-me, mutilei e quebrei os sorrisos de quem me
dava vida. arrastei-me às lágrimas das dores e o tempo não foi tempo, mas
passou. solitária, não é nome para uma cela assim. não é solitária porque não é
vazia. uma sala comigo nunca será vazia, pois a alma que carrego está cheia de
nadas sentidos, está cheia de pedaços de mim, de espelhos quebrados por partes
mentidas, de dores agarradas ao inferno, de choros gemidos como os das alminhas
daquela curva. está cheia de desamparos de amores de costas voltadas, está
cheia de flores mortas com cheiro a tristeza. e tudo isso vem de mim, tudo isso
me enche enquanto preencho a solitária. tudo isso me preenche com mais força do
que um mar enraivecido, do que um fantasma à procura de paz, do que um homem
morto de amor. com mais força do que eu pude alguma vez julgar. com mais força
do que a própria morte me pode trazer, com mais força que a despedida de vós.
somente com mais força ainda do que o olhar feliz onde tens amor. e com mais
força que o amor é tão difícil, é tão insano e solitário. é tão preso ao
passado. é passado. liberto. alcatraz 28042012
Adorei!
ResponderEliminarJá sabes que morro de espanto quando leio os teus textos.
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