matei-me mas não me suicidei. deixei ali um corpo mas estou cá. nem sem mais quem ele é. talvez o mais feio de todas estas vidas que cá vim. e talvez esta não seja a última.
ora bolas, matei outra vez aquele imbecil, e agora vou viver. afinal não preciso de um corpo para viver. a alegria está na alma, a tristeza aperta no peito e os olhos choram, para quê? é tão mais fácil ser espírito e levar de um bar fechado a minha festa."ora doce, ora amarga" consoante a tal alma se der sem ti. essa alma, minha alma, nem te ama. aquele corpo sim, mas eu? eu amo a vida, e agora vou viver. tu, hás-de aparecer, ou não, para ver esse corpo que ficou. o enterro talvez seja amanhã, ou depois. vistam-me de preto, eu só gosto do preto. avisem-na que quero ser enterrado de preto e vou estar lá para ver. e vou abraça-las quando chorarem por aquele corpo. tão vadio. elas não vão perceber, e eu só usei uma faca para o deitar solto no chão. inanimado.
a vista daqui é melhor. se alguém me conseguir ouvir, digam-lhes que eu estou bem. vim viver, decidi viver, aí no submundo morria um pouco todos os dias. e dêem-lhe beijos, aquele corpo gostava de beijos. e de abraços que nunca teve. ai vida, vida, elas também gostavam de beijos e eu dava.
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