cavalinho de algibeira. branco.
culto. hábil domador de afectos. que fé é a tua? crês nas coisas bonitas? se a
tua alma é branca, como reluzem azul os teus olhos? que fogo é esse que
queimas? o teu corno lança feitiços de amor? és a união da terra com o mar
enquanto Lucifer beija o céu? julgo-te filho de Deus, mas nascido de uma vargem
de ervilhas tortas. puseste uma semente de maldade em tudo o que tocaste e
fizeste da serpente uma culpada apetecível. quem atribui nome aos animais? se o
que torto nasce, tarde ou nunca se endireita, para que serve andar de pé?
erecto. moderno. sábio. os unicórnios voam? porque guardaste os contos de
bruxas e afixaste a fome dos pretos em cartazes com cores de bugigangas? a puta
da fome é negra, Senhor! alguém já te pediu a morada para entregar o dízimo e
ao invés de te deixar a esmola deixou-te um copo de água choca? é que as
pessoas cheiram mal, Senhor. as mentes estão podres e o hálito com que criam
discursos é venenoso. os gatos tem superpoderes e nós temos tudo o que nos
resta, mas não chega. o que nos resta Senhor, está misturado com um bando de
lacaios, submergido nas filosofias baratas de profetas modernos e a magia
esconde-se em bolsos de mulheres nuas onde os unicórnios fazem amor com as
ninfas. é preciso esconder o belo como se fosse tudo o que mais importa. o amor
esconde-se porque a doutrina disse que assim deveria ser. a loucura esconde-se
porque a doutrina disse que era marginal. a arte oculta-se porque a doutrina
diz que o povo tem de ser burro. a inteligência mecaniza-se porque a doutrina
disse que nem todos merecem a vida. se quisesses fazer amor com um homem,
Senhor, tinhas de te esconder num corpo de mulher e bater-lhe. mata-la quem
sabe. se quisesses fazer amor num prado de margaridas e violetas, onde o vento
corta a alma em porções cósmicas, terias de construir paredes altas porque o
amor tornou-se perverso e sádico de se ver. Senhor, se dissesses que afinal és preto e que
depois de cresceres quiseste ser mulher em vez de ser homem, sentirias as pedras
baterem-te no rosto até o teu cérebro ser sopa para os corvos. serias traído pelos seres criados à tua semelhança. o amor é coisa
que magoa. que ofende. que indigna os corpos abençoados pelas doutrinas da fé. o
amor não é para se ver. o amor já não são as pessoas. essas aceitaram o histriónico mas não o sentimento de culpa. aceitaram a repulsa e escolheram o mal dizer, em troca de meia dúzia de
favores corrompidos por um sistema em declínio. a mentira é mais digna que a
verdade sempre que alguém quiser assumir que não cabe na caixa de ferramentas
que se vende no hipermercado. eu não quero ser comercial. a minha vaidade é
única. a minha alma não se quer corromper. porque é mais fácil desdenhar o bem alheio do que resolver o mal que se
semeia no próprio coração? a humanidade está perdida, tal como todos os seres
mágicos. esconderam-se num manto invisível e pediram à morte uma barca para
fugirem. se moisés existiu, moisés se enganou no destino. moisés não carregou
tudo o que pôde. estão os centauros junto das estrelas? estão os elfos na
floresta a compor sons com acordes secretos? são os gigantes as montanhas do norte?
e os unicórnios, Senhor? foram extintos quando a pureza se aniquilou junto dos
corações malignos? Senhor, fodemos com este mundo e não conseguimos parar. parar-te.
se és a falácia que move a cabeça das maiorias, não seria lógico cortar o mal
pela raiz? a tua, oh criatura mágica, a ti ninguém te vê. a ti ninguém te fode.
oh, se fosses pelo menos unicórnio, não serias um mero criminoso passivo.
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