enterro os dedos no baço e que se
dane a imunidade. esqueci-me de cortar os demónios e queimar os braços. perdão,
cortar os braços e queimar os demónios. enterro os dedos na ferida e que me doa
a saudade. esta noite fico ao portão. e enquanto as luzes ligam e se vão, o
motor que a levará longe aquece. cheira a sangue e perco-me no escuro. embrulho
os dedos, aperto o ar e olho para o céu em busca de um sugador galáxico. porra,
que nada neste mundo me leva. sugam-me a vida, mas nunca me chegam ao corpo.
entre a alma e o osso quantas raios de sol trespassarão? até a luz me rasga os
trapos. cega-me a vista, mas deixa-me os olhos. porque nunca nos levam tudo
realmente? deixam sempre um pedaço para doer. para fazer lembrar. fazer crescer
esperança e cuspir a ganância. alguém saberá realmente viver? haverá mesmo um
rei da chuva? e se chove no inferno, porque nunca é o suficiente para apagar a
dor? e será que ela tem família? a minha mãe perdeu uma nuvem e ganhou um
bilhete para o céu. a minha mãe anda a monte na cidade dos esquecidos e eu
nunca percebi os que a lembram que já doeu mais. é tão difícil ser-se uma
memória. às vezes apetece-me dizer um caralho, mas não é correcto borrar a
pintura. antes psicopata que insurrecto. a minha avó ainda acha que existe um
Deus de tudo! que castiga mas perdoa! que está à espera da penitência e da
desonra! enfim, talvez seja um senhor de muitos negócios. criatura modesta. era
bonito se Deus coubesse num fato de marca e calçasse nos pés um sapatos de
pregos como manda aos outros. ou que tivesse de cortar os braços para fingir
que a dor não sabe a derrota. será que Deus tem braços? é que deixou de me
agarrar. será que Deus inventou os químicos ou será só o produto deles? meia
dúzia de comprimidos e até falo com ele às escuras. é mais fácil vê-lo no
escuro, entre o vazio e os demónios e ouvi-lo a cantar de noite. o amor diz que
me ama. eu acredito. mas quando está escuro fico confuso. o coração aperta, os
demónios queimam e os braços cortam-se. é bom, mas tudo passa. é mau, e tudo
fica. são marcas. enterro os dedos na ferida e que se dane a dor. esqueci-me de
cortar a memória e queimar os sentidos. perdão, queimar a memória e cortar os
sentidos. perdão, perdi o sentido. enterro os dedos na alma e vazio. perdão,
perdi os sentidos.
bom texto, guarda este :)
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