Almas

20141215


como estás? perguntou. de frio antes que a estrutura abalasse, "queres mesmo saber?". terá sido o suficiente para destabilizar quem se esforçava para não cair. oh pai.

sento no chão frio. cheira a húmido, penso.
entrelaço os dedos nos membros cruzados enquanto me agarro para não me bater.
o corpo gela silenciosamente.
a paranóia bate lentamente e apercebo-me só quando já afundado nela. os livros deveriam ser seis para cada lado. distraio-me da tormenta com estes pensamentos alinhados. mas não lhes toco, sou incapaz agora de sentir.
respiro moderadamente. 
descontrolo-me porém, solto com violência os dedos gelados e agarro o cabelo, puxo-o mas não sai. oh de mim. uso do que tenho, sirvo-me do que é meu e mordo-me onde posso. repudio o que há de sujo em mim, e tento rasgar-me.
bato a cabeça na parede com força suficiente para o barulho da batida se sobrepor às vozes. canso-me. sinto dor finalmente e paro.

os olhos deixam-se secar e ardem em sal e lágrimas secas agora. ao lado tenho um corpo e alma que me observa com os olhos da mente. cabeça baixa. mãos trémulas e braços apoiados nos joelhos que o sentam. apercebo-me meu irmão, enquanto tento recuperar a compostura para que não continues tendo tal exemplo. que me perdoes assistir a isto também de mim. compreendo nestes instantes a tua maneira de ser. quem tanto carrega, por algum lado tem de vazar.

"cuidado como falas" gritei-lhe ao inicio pois estaria a cobrar-me o silêncio em que me tentava controlar. e terá sido o bastante para descontrolar o barulho em mim. enfim, mãe...

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