Almas

20140724

as vozes



escuta as vozes, amor. são belas as vozes, não são amor?

as vozes são belas, amor.

as vozes são telas.

oh as vozes são pretas, amor.

são negras em luto, amor.

as vozes são a morte, tenho medo, amor.

as vozes são pó.

as vozes desaparecem como fantasmas, amor.

ouve-las, amor? consegues escuta-las? na minha cabeça, amor? fazem ecos na madrugada e eu não durmo, amor.
elas mexem-se, amor. fazem sombras e eu ouço-as, mas escondo-me. elas mexem-se e dançam em torno de mim, e agarram-me, e estendem-me a mão até ao abismo.
são belas as vozes, amor. então eu ando com elas. porque são elas a morte, amor? aquela que há em mim?

as vozes são morte, amor.

as vozes são pó.

as vozes também desaparecem, amor. 

por isso eu canto sem elas. e sabes porquê, amor?
para que se lembrem de vir, e para me lembrar que sempre existem, amor.

as vozes são minhas, amor. 
ensurdecem-me a noite e abafo-as de dia enquanto canto. 
gosto das vozes, amor.

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