escuta as vozes, amor. são belas as vozes, não
são amor?
as vozes são belas, amor.
as vozes são telas.
oh as vozes são pretas, amor.
são negras em luto, amor.
as vozes são a morte, tenho medo, amor.
as vozes são pó.
as vozes desaparecem como fantasmas, amor.
ouve-las, amor? consegues escuta-las? na minha
cabeça, amor? fazem ecos na madrugada e eu não durmo, amor.
elas mexem-se, amor. fazem sombras e eu
ouço-as, mas escondo-me. elas mexem-se e dançam em torno de mim, e agarram-me,
e estendem-me a mão até ao abismo.
são belas as vozes, amor. então eu ando com
elas. porque são elas a morte, amor? aquela que há em mim?
as vozes são morte, amor.
as vozes são pó.
as vozes também desaparecem, amor.
por isso eu
canto sem elas. e sabes porquê, amor?
para que se lembrem de vir, e para me lembrar que sempre existem, amor.
as vozes
são minhas, amor.
ensurdecem-me a noite e abafo-as de dia enquanto canto.
gosto das
vozes, amor.
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