Almas

20130407

sal de primavera.


poderia ter adormecido no teu corpo, no chão do teu espirito morto que guarda segredos de outras horas. poderia ter-me agarrado contigo na palma das mãos que nos separavam. poderias ter fugido sem mim com  o meu coração na tua voz e com o meu amor no teu peito. poderíamos ter-nos deitado nas camas de flores na presença dos corpos que já não existem. poderia ter fechado os olhos contigo no dia em que foste e teria sido tão mais fácil morrer também do que me disfarçar de vivo. deixei-me levar porque os corvos me fitaram demasiado o olhar e me enganaram a alma enquanto ias em definitivo e eu não via. agora guardo marcas que não saram e castigos sós que não julgo merecer. e já passou demasiado tempo para ainda me lembrar de ti. para ainda chorar pelo luto que não fiz, pois esperava-te viva no tempo em que já estavas morta para mim. poderia não ter existido e ouvido a morte à nascença, mas arrisquei a sonhar sem ti. a viver sem nós e não consegui alimentar-me por muito tempo. afoguei-me em memórias todos os dias em que não te via e despedaçava-me por partires cada vez mais, naqueles em que te relançava instantemente o olhar pelas costas. escutei as dores do meu sangue e rasguei tecidos de mim com as facas que me foram dando. poderia ter acabado comigo, mas os pássaros de branco e os anjos da minha noite mandaram-me ficar. quieto e imune às tragédias dos demónios que me tentavam dias e dias sem fim. supliquei desconfiando demasiadamente e segui na espera. porque se as lágrimas do inverno eram demasiado velhas, havia de chegar a hora da primavera me trazer um sorriso novo. poderia ter morrido sem ti, mas preferi esperar para sofrer um pouco mais e antes morrer por mim. e quem sabe, se antes da partida ainda me resta ficar para viver uma primavera que renasça em dois seres escuros de prazer. em dois seres escuros de almas gastas, que na sua fusão se chamem de amor.

4 comentários:

  1. gosto muito da tua definição de amor.

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  2. Um texto disfarçado de amor. E, vejo nele, vários "tipos de amores". O que me fascina...
    um beijo

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  3. Continuo a adorar a forma como escreves e como expões aquilo que pensas, nomeadamente sobre o amor. É interessante como este texto, de certa forma, me faz lembrar aquele meu que comentaste :) Aproveito para te dizer que não fiquei nada ofendida! Sabes, concordo contigo porque realmente acho que tenho sido demasiado racional e tenho camuflado muita coisa que se calhar não devia. Talvez deva mesmo deixar de lado as desconfianças nos sentimentos e entregar-me. Talvez.
    Isto não teve grande coisa a ver com o teu texto xD Mas aproveito para te dizer que puseste-me a pensar e talvez eu deva dar uma oportunidade a mim mesma :) Obrigada.

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