Almas

20130414

espelho de alma


criei um espelho no submundo, subtraí-lhe as forças, esmaguei-lhe os sorrisos. arranquei de cada olho as pestanas que o protegiam da luz e fiz dele um corpo morto. calei-o para que não tivesse de ouvir a sua voz de demónio e cosi-lhe a boca pois só assim poderia gemer de dor no prazer maquiavélico que só eu lhe proporcionava. atei-lhe as mãos, sempre com o intuito de o prender. não queria ver aquele reflexo, solto à deriva na minha alma. o submundo era o recanto dos mortos que viviam em mim, dos corpos presos às memorias de alguém. apaguei-lhe as lembranças e em papel de veludo bordei tudo aquilo que lhe podia fazer sofrer. enchi-o de vazios para que mais tarde pudesse ser eu a preenchê-lo com tudo aquilo que me atormentava. todas as histórias irreais, que lhe dessem vontade de viver no dia em que o libertasse desse espaço escondido nos confins do mundo negro. despi-o de mentiras pois sabia quão verdadeira era a sua pele salgada. uma pele de capa em resistência que lhe cobria a fraqueza da desidratação. criei um amigo no submundo que rapidamente se tornou em mim. não por minha vontade, mas pelo luto que ainda fazia de ti e que  me fez perder na imensidão das lagrimas que eu não brotava, mas engolia. no interior do meu submundo tenho um espelho, onde a minha alma chora com um amigo. por (ti)m.

2 comentários:

  1. Esse é o perigo de criar-mos algo que depois se tranforma em nós próprios.

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  2. Achei tão linda a parte final. Penso que quando estamos num momento de introspeção há a tendência a criarmos um espelho da nossa alma e, na verdade, todos vamos espelhando quem somos, ainda que não queiramos. :) Tens de parar de escrever coisas tão lindas. Não, estou a brincar! Obviamente que tens de continuar!
    beijo!

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