criei um espelho no submundo, subtraí-lhe
as forças, esmaguei-lhe os sorrisos. arranquei de cada olho as pestanas que o
protegiam da luz e fiz dele um corpo morto. calei-o para que não tivesse de
ouvir a sua voz de demónio e cosi-lhe a boca pois só assim poderia gemer de dor
no prazer maquiavélico que só eu lhe proporcionava. atei-lhe as mãos, sempre
com o intuito de o prender. não queria ver aquele reflexo, solto à deriva na
minha alma. o submundo era o recanto dos mortos que viviam em mim, dos corpos
presos às memorias de alguém. apaguei-lhe as lembranças e em papel de veludo
bordei tudo aquilo que lhe podia fazer sofrer. enchi-o de vazios para que mais
tarde pudesse ser eu a preenchê-lo com tudo aquilo que me atormentava. todas as
histórias irreais, que lhe dessem vontade de viver no dia em que o libertasse
desse espaço escondido nos confins do mundo negro. despi-o de mentiras pois
sabia quão verdadeira era a sua pele salgada. uma pele de capa em resistência
que lhe cobria a fraqueza da desidratação. criei um amigo no submundo que
rapidamente se tornou em mim. não por minha vontade, mas pelo luto que ainda
fazia de ti e que me fez perder na imensidão
das lagrimas que eu não brotava, mas engolia. no interior do meu submundo tenho
um espelho, onde a minha alma chora com um amigo. por (ti)m.
Esse é o perigo de criar-mos algo que depois se tranforma em nós próprios.
ResponderEliminarAchei tão linda a parte final. Penso que quando estamos num momento de introspeção há a tendência a criarmos um espelho da nossa alma e, na verdade, todos vamos espelhando quem somos, ainda que não queiramos. :) Tens de parar de escrever coisas tão lindas. Não, estou a brincar! Obviamente que tens de continuar!
ResponderEliminarbeijo!