Almas

20130312

perderam-se


cercou-se numa camisa de forças e gritou dor. todos o chamaram maluco e apenas os surdos o ouviram. agarrou-se ao amor mas ele fugiu-lhe. também ele fugiu dele, num acto certo na altura errada. todos o chamaram verme e apenas os cegos o viram. agarrou-se à dor e ela encontrou-o. também ele a encontrou, num acto errado na altura certa. sempre numa altura certa, num tempo errado, num choro seu.  cercou-se numa camisa de dor e gritou por forças. só os de bem o acolheram, quando os de mal o acolhiam. só os de mal o perderam, quando os de bem o prendiam. e ainda assim não chegaram para o erguer. no amor não cabe sempre amor tal como no ódio não cabe sempre ódio. porque tantas vezes o amor cabe no ódio e o ódio se chama de amor, assim como ele se chamava por ti e tu nunca chamaste por ele. nunca coube amor em ti e ele nunca soube amar. porque se ele era maluco, como poderia amar?

torceu-se num armário escuro e gritou perdão. todos a chamaram assassina e apenas as almas a ouviram. agarrou-se ao choro mas ele secou. também ela secou nele, num acto certo na altura errada. todos a chamaram de vadia e apenas a morte a chamava. agarrou-se à saudade e ela encontrou-a. também ela a encontrou, num acto errado na altura certa. sempre numa altura certa, num tempo errado, numa agonia sua. torceu-se num armário escuro e gritou perdão. só que ninguém a acolheu, quando a destruição a acolhia. só o vazio a conquistava, quando ninguém a prendia. e ainda assim não chegou para a matar. na solidão não cabe sempre saudade tal como na saudade nem sempre cabe a solidão. mas tantas vezes a saudade cabe na solidão e a solidão se chama saudade, assim como ela se culpava por ti e tu nunca a culpaste de nada. nunca coube culpa em ti e ela nunca se desculpou. porque se ela era culpada como poderia deixar-se amar?

perderam-se numa guerra de fantasmas e gritaram amor. todos lhes chamaram miseráveis e apenas os sonhos os ouviram. agarraram-se um ao outro mas não chegou. também eles não chegaram um para o outro, num acto certo na altura errada. todos os chamaram cobardes e apenas eles se sentiam. agarraram-se ao passado e o passado encontrou-os, num acto errado na altura certa. sempre na altura certa, num tempo errado, num amar despercebido. perderam-se numa guerra de fantasmas e gritaram amor. só eles não perceberam, quando se odiavam tanto. só eles se perderam, quando ainda eles se amavam. e ainda assim não chegou para se separarem. no peito nem sempre cabe amor tal como o amor nem sempre cabe no peito. mas se o amor chegar ao peito, o peito não chegará para amar, assim como o amor chamou por eles e eles nunca ouviram chamar. nunca coube amor neles e eles nunca se puderam amar. porque se eles não se viam, como se poderiam amar? mas se eles se amavam, como se poderiam esquecer? e se eles se amavam, como se puderam perder?

5 comentários:

  1. rendi-me, estou absolutamente rendida a este texto... os meus mais sinceros parabéns

    ResponderEliminar
  2. isto está...muito bom!!!

    ResponderEliminar
  3. não sei como me vens escrever que tens textos preferidos meus, sabes. É que os textos são verdadeiras obras literárias, pequeno

    ResponderEliminar
  4. Não agradeças, à medida que vou lendo o que escreves vou ficando cada vez mais absorta, adoro o mistério com que envolves as palavras... e fico feliz por teres gostado do que escrevo :')

    ResponderEliminar
  5. tenho de trabalhar para ser uma musica bonita (:

    ResponderEliminar