cercou-se numa camisa de forças e
gritou dor. todos o chamaram maluco e apenas os surdos o ouviram. agarrou-se ao
amor mas ele fugiu-lhe. também ele fugiu dele, num acto certo na altura errada.
todos o chamaram verme e apenas os cegos o viram. agarrou-se à dor e ela
encontrou-o. também ele a encontrou, num acto errado na altura certa. sempre
numa altura certa, num tempo errado, num choro seu. cercou-se numa camisa de dor e gritou por
forças. só os de bem o acolheram, quando os de mal o acolhiam. só os de mal o
perderam, quando os de bem o prendiam. e ainda assim não chegaram para o erguer.
no amor não cabe sempre amor tal como no ódio não cabe sempre ódio. porque
tantas vezes o amor cabe no ódio e o ódio se chama de amor, assim como ele se
chamava por ti e tu nunca chamaste por ele. nunca coube amor em ti e ele nunca
soube amar. porque se ele era maluco, como poderia amar?
torceu-se num armário escuro e
gritou perdão. todos a chamaram assassina e apenas as almas a ouviram. agarrou-se
ao choro mas ele secou. também ela secou nele, num acto certo na altura errada.
todos a chamaram de vadia e apenas a morte a chamava. agarrou-se à saudade e ela
encontrou-a. também ela a encontrou, num acto errado na altura certa. sempre
numa altura certa, num tempo errado, numa agonia sua. torceu-se num armário
escuro e gritou perdão. só que ninguém a acolheu, quando a destruição a
acolhia. só o vazio a conquistava, quando ninguém a prendia. e ainda assim não
chegou para a matar. na solidão não cabe sempre saudade tal como na saudade nem
sempre cabe a solidão. mas tantas vezes a saudade cabe na solidão e a solidão
se chama saudade, assim como ela se culpava por ti e tu nunca a culpaste de nada.
nunca coube culpa em ti e ela nunca se desculpou. porque se ela era culpada
como poderia deixar-se amar?
perderam-se numa guerra de
fantasmas e gritaram amor. todos lhes chamaram miseráveis e apenas os sonhos os
ouviram. agarraram-se um ao outro mas não chegou. também eles não chegaram um
para o outro, num acto certo na altura errada. todos os chamaram cobardes e
apenas eles se sentiam. agarraram-se ao passado e o passado encontrou-os, num
acto errado na altura certa. sempre na altura certa, num tempo errado, num amar
despercebido. perderam-se numa guerra de fantasmas e gritaram amor. só eles não
perceberam, quando se odiavam tanto. só eles se perderam, quando ainda eles se
amavam. e ainda assim não chegou para se separarem. no peito nem sempre cabe amor
tal como o amor nem sempre cabe no peito. mas se o amor chegar ao peito, o
peito não chegará para amar, assim como o amor chamou por eles e eles nunca
ouviram chamar. nunca coube amor neles e eles nunca se puderam amar. porque
se eles não se viam, como se poderiam amar? mas se eles se amavam, como se
poderiam esquecer? e se eles se amavam, como se puderam perder?
rendi-me, estou absolutamente rendida a este texto... os meus mais sinceros parabéns
ResponderEliminaristo está...muito bom!!!
ResponderEliminarnão sei como me vens escrever que tens textos preferidos meus, sabes. É que os textos são verdadeiras obras literárias, pequeno
ResponderEliminarNão agradeças, à medida que vou lendo o que escreves vou ficando cada vez mais absorta, adoro o mistério com que envolves as palavras... e fico feliz por teres gostado do que escrevo :')
ResponderEliminartenho de trabalhar para ser uma musica bonita (:
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