viana. passou o ultimo comboio e
eu quase fugia numa carruagem de fantasmas. esta noite há festa e eles nem
precisam de máscara. sozinho. sentado. não fumo, mas o cigarro acendeu-se e eu
aproveito. estou mascarado, e o meu personagem é fumador nos tempos mortos pela
saudade. os carris desta estação estão maquilhados de partidas com sangue.
ganhei companhia. a morte pintou-se de gata e veio miar ao meu lado.
convidou-me para dançar ao som da chuva, mas recusei. não vou fazer mais um par
de noivos mortos como tantos que andam aí. viana. varrida de luz neste inverno.
pedrado. escuto os morcegos pedirem bebidas nas tascas. ando perdido nas ruelas
escuras e os velhos chamam-me pedinte. olhei o céu e ofusquei-me com as luzes das
casas velhas. entrei num bar e o preto que visto perdeu-se também com as luzes
que saltam dos tectos. a tequila come-me o cérebro e fico-me pela cerveja. olho
ao redor e o redor olha pra mim. fazer conversa sobre a vida não é forma de angariar
amigos, nem tempo. procuro de novo e vejo alguém. uma alma disfarçada como eu, como
se de uma dupla se tratasse. o olhar dela está mais perdido que eu. talvez seja
um fantasma. vou chegar perto e confirmar. toquei-lhe. o calor nas minhas mãos
fez-me sentir neste mundo. as minhas palavras de cumprimento deitaram-lhe lágrimas
ao rosto. talvez sejam efeitos do álcool, vou dar apoio como tantas vezes me
habituei. mas não, havia ali um estado de sobriedade que nem deu espaço para o álcool
suspirar. até eu fiquei sóbrio repentinamente. encontrei alguém como eu.
olhamos nos olhos e ela sorriu. sem nunca me ter visto abraçou-me e senti outra
vez que pertencia a este mundo. fechei os olhos, e nesse instante uma voz me
soou tão doce ao ouvido e me agradeceu. toquei-lhe os braços e convidei-a para passear
no frio do norte. os olhos dela aceitaram, e conversamos tantas horas em
silêncio. foi bom, contamos a vida um do outro sem uma única frase sonante e percebemos-nos
pelo profundo dos nossos olhares. ela adormeceu no meu colo e apenas estou
inquieto por não saber quem ela é. continuamos estranhos apesar das nossas almas
já se terem tocado noutras vidas. estas coisas sentem-se. acordei-a, quando me
deixei levar por um carinho espontâneo e ela sorriu de mansinho. não faço ideia
do que se passa comigo para tanta cumplicidade. não me conheço neste jeito.
parece que tudo ficou tão banal. seis da manhã. os fantasmas começam a
esconder-se e ganho coragem para lhe perguntar o nome. olhou-me o peito,
pediu-me o telemóvel, deixou-me o numero e fugiu. inquieto de surpresa e
mistério. apenas receio que a morte se tenha mascarado de princesa para me
ouvir morrer. se me enganou, ao menos por momentos fui feliz. e viana, foi
novamente carinho, quem sabe, amor.
Sinto que estou na parte mais bonita da blogosfera! *-* "os fantasmas começam a esconder-se e ganho coragem para lhe perguntar o nome." Adorei!
ResponderEliminarUii, isto realmente aconteceu? Então liga-lhe e percebe se era realmente a morte disfarçada..e se for, engana-na e não te deixes levar por ela. Se não for, então sê feliz. :)
ResponderEliminarPelo menos foi real...e um dia, ela estará por perto, todos os dias. Espero isso, para ti :)
ResponderEliminarNunca te chamei anormal mas posso chamar agora por pensares que o és, oh anormal :P Mas nunca te imaginei rapaz de falar de amor da forma que falaste naquele texto. Apesar de achar que vives muito o amor, o que é bom de saber (ou imaginar que sim.)
E, estou meio a falar em código, porque as pessoas riem-se mesmo de mim quando eu conto isto e ninguém acredita que estou a falar a sério, entao...
Não, a forma como falaste foi boa, pelo menos eu gostei. Não sei, deu-me assim uma alegria interior ler aquele parágrafo. Podes achar-me maluca mas é o que eu acho. :) E deixa lá de estar meio parvo que eu só gosto de deixar as pessoas assim por um motivo e não é pelo que digo. ;)
ResponderEliminarNão sei, era pelos textos com que te conheci, aquela revolta e dor. Associei isso a ti e pronto, não pensei que o amor estava assim tão em ti. Eu queria fazer-me entender. Porque não te acho má pessoa, claro que não. eu sou tipo a romantica mais romantica que há e achava-te uma pessoa não romantica. Entendes-me?
Os desconhecidos não sei mas os meus amigos é por me acharem maluca. E eu nao acho piada a isso, então.
Este texto vai sempre fazer-me "sonhar" que um dia também irei ter assim uma noite com o "meu desconhecido" . És o culpado por desejar ainda mais o desconhecido :P Estás a contribuir para a minha maluquice :O
ResponderEliminarTem de haver amor para ti sempre, só assim o amor para os outros é o correcto. Não interessa? Claro que interessa. Mas dá para perceber que agora estás bem, ou disfarças realmente bem, e isso é que importa, que me importa. :)
Toca lá a não ser disfarce e a ficares mesmo bem "fachabore" :) Ohh, eu também não tenho a quem o dar e continuo a achar que é sempre importante, nem que seja para nós próprios. Sinto ironia nas tuas frases. -.-'
ResponderEliminarOs teus "ahahah" é que demonstram ser ironia. Mas eu hoje estou virada para que tudo traga ironia por isso.. Mas sim, tbm acho isso. nao sei se é melhor mas é mais "fácil". É mesmo isso que eu faço...e a parte preferida é rir em situaçoes que sao para chorar. É realmente ser-se maluca, ou parva, que tbm sou. xD
ResponderEliminarAhh, gosto de ti fora da blogosfera. x)
Ahhh, entao coloca os ahahah que quiseres. :) Peço desculpa.
ResponderEliminarSim, antes assim que uns angustiados. digo eu...xD
É mais a falta de companhia. -.-' Mas nada que eu não disfarce, como tu ;)
ResponderEliminarObrigada.