3. madrugada. os sonhos roubam-me
o sono e então acordo. algo me querem dizer mas estou cego à muitos anos. há
quem fale de fantasias, eu falo de amor e morte. a morte é tão verdade e o amor
é tão cruel. e por isso odiámos a verdade por ser honesta e amamos um amor que
tapa a verdade porque nos reconforta com uma mentira bonita. os sonhos não são
nada, mas são tudo se ouvirmos o que nos contam. mas estou surdo à muitos anos.
3:30. madrugada mais velha. os sonhos roubam-me o sono e então tento escrevê-los.
um anjo sagrado, um manto negro que lhe veste a pele. queimada. um anjo de pele
queimada com memórias de ti. puxa-me da cama onde descanso o corpo e leva-me a
alma ao inferno. odeio estas viagens nocturnas. os caminhos onde passo gritam
nomes e levam promessas deitadas ao vento. as cangostas encobrem as bruxas
disfarçadas de branco e os cruzamentos são o palco onde se exibem os feitiços.
não fosse madrugada e os espíritos não andassem soltos e não te via com elas.
3.45. madrugada mais manhã. os sonhos levaram-me ao inferno e eu rezo. os anjos
são tão negros aqui e as crianças inocentes não existem por cá. as gentes que
aqui choram são almas perdidas nos luxos da traição. os mandamentos de Deus não
servem aos príncipes do demónio, pois estes só se alimentam de dor. a morte
está cá, mas só de visita como eu. ela vem rir-se e eu venho buscar o sentido
do sonho. os meus pés queimam-se nas chamas deste mundo e as imagens que me mostram
choram para mim. vidro nelas como se entendesse o que elas querem e revejo-te a
rir. 4. madrugada para acabar. os olhos caem ao de leve e entendi o sonho.
entendi que as memórias são para rir. e chorar. são para recordar. e viver. e
deixar lá, no canto delas e seguir o destino. ele há-de ser feliz. a alma está de volta. desta vez
sozinha. 4:15. madrugada ainda noite. o sono não deixa os sonhos falarem.
adormeço o corpo e aprecio a mente conversar com a alma sobre mim. e elas falam
bem de mim, porque me amam e são cegas. e tão honestas por me deixarem morrer. e
eu não me importo. pois a verdade é mais cruel mas leva-me ao céu e larga-me do
inferno desta terra de sonhos em memórias. perfeição. uma verdade cruel e um
amor verdadeiro. alma, corpo e mente. tão cegos e tão surdos de mim.
"a morte é tão verdade e o amor é tão cruel." Acho que isto disto muito.
ResponderEliminarAo ler este texto e lembrando-me de quando te comecei a ler, parece que cresceste tanto, em termos de escrita.
Um beijo
R: É verdade, felizmente sei o que é amor, e aquilo nada se assemelha a isso. Não percebo sinceramente como podem achar sentir algo que na realidade é um sentimento muito valioso.Acho que o problema é que apenas quem já amou de verdade é que consegue distinguir uma pequena atracção ou algo pequeno do que é amor.
ResponderEliminarAdorei o texto!!
ResponderEliminarCrescer, seja pelo bom ou mau motivo, é sempre bom. Eu acho.
ResponderEliminarGosto da forma como consegues fazer com que eu sinta de uma forma peculiar aquilo que escreves. "entendi que as memórias são para rir. e chorar. são para recordar. e viver. e deixar lá, no canto delas e seguir o destino." Bem verdade.
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