Almas

20121206

vinte e cinco é dezembro


o meu natal morreu aos dez anos com um cancro e eu cresci. cresci com a presença de uma doença nos anos que se avizinharam. uma doença que a qualquer instante te podia levar de mim. uma doença que não te levou, mas no final levou-me a mim, levou-me o que eu era, varreu-me a criança e deixou-me o medo de crescer tão rápido. nunca soube ao certo o significado de depressão, mas quase que aposto a vida em como eu tinha uma. anos a fio a guardar só para mim todas as dores, todos os medos e angustias, todas as responsabilidades, todo o significado da morte a ser engolido a seco pelo meu peito. o meu natal morreu, sei disso não pelas memórias do seu enterro mas porque sei que todos os anos não há vida em mim para celebrá-lo. nunca fui de presentes, mas de amor, nunca foi de bens mas de valores. senti falta do carinho, da atenção. eu sei que não foi de propósito, talvez nunca tenham reparado até nessa lacuna que sempre me acompanhou. também nunca me queixei, nada foi fácil, mas tantos miúdos que crescem com histórias piores que esta. isto nem foi nada, afinal estás viva mãe, mas a nossa história é sempre a nossa história e para nós tem o valor que tem. acredito que a infância tenha sido feliz até essa idade, mas as memórias são vagas para recordar. não me lembro, como se um bloqueio tivesse apagado de mim o que fui e vivemos antes. o depois foi mau e foram essas recordações que decidiram ficar. o nosso natal não é feliz, somos poucos e cada partida faz-se notar como infinitos nestes dias mais nostálgicos. não tenho primos, tias e tios que vem de longe, somos só os do costume. os do costume, vós que nunca fostes de festas nem alegrias e foi essa falta de espirito com que cresci. e é isso que sou. vivemos as recordações e os efeitos ainda de um natal amaldiçoado em dois mil e um. prometo. juro que prometo que um dia será a minha família, a minha mulher e os meus filhos, e quero que nessa altura o meu natal viva. desejo sentir o tanto que tanta gente sente. na verdade eu não odeio o natal como tantas vezes digo, apenas não o conheço verdadeiramente. este ano ainda assim será. este ano.

P.S:. Avô, onde quer que estejas um beijo teu com um abraço era a minha maior prenda deste ano. amo-Te herói. as minhas lágrimas não são presente para ninguém mas são o meu reflexo mais sentido que tenho para te dar. um beijo para ti.

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