tic-toc, quantas feridas no meu corpo são tuas?
tic-tac, parto a louça, rasgo a pele e como duas.
solidão é o caminho da vergonha. agonia são as paredes do abismo.
picotado, picotado, só mais um traço em que me perco e me marco. se sismo,
parto. ai, ai, ai, isto dói, mas nunca tanto como a dor. quem me dera ser mais
forte que o vazio. é tão triste o que sinto e os pés gemem de dor como
abanicos. o que sinto é tão triste e as mãos só pedem sempre mais um risco. é
suposto me perder para me encontrar. drenar. escorrer. nada escorre, secura, é
preciso ir somente mais fundo. os meus olhos são aquilo que eu não minto. a
boca foge de quando em vez porque não encontro as palavras deste labirinto.
custa tanto ser mulher. ser melhor. se a luta não é suficiente, morramos todos.
dementes. colapsados pela vontade de morrer. de sofrer. de sentir. magoar para
sentir. mais além. mais. algo. é preciso sentir algo. a companhia de algo.
companhia para morrer. abrir um risco para sentir a companhia de nós mesmos. é
uma fúria sem lei, aprisionada pela mentira de nós mesmos. solta-te e vai.
sangue. pinta as paredes e corre. vida. quem me dera ter mais para viver, se
assim morro. perco tempo. quem me cala estas vozes? quem me fode os tendões onde
me suporto com o peso de nada? nada? só queria ser tudo. ser tanto. ser mais
além do que em vão. mais forte que o vazio de não ter ninguém. o meu Deus fala
entre linhas de desespero. Entrelinhas. é a guerra, é a fome e eu não quero marchar
mais além de onde tenho raízes. voar, deixar escorrer-me e partir. é sádica a
vontade nobre de morrer. honra o teu nascimento. não pediste? não morreste.
não. nada. pouco. somente.
tic-toc, quantas feridas no meu corpo vais sarar?
tic-tac, junto os cacos, desinfecto e bebo duas. doses. solidão.
agonia. será isto o abismo? ou só o fim da queda?
tic-tac. tic-toc.
tic-.
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