Almas

20130503

és?


já contemplaste quão bonita és? és feita de nódoas negras e de cicatrizes invulgares das conquistas que os comuns dos mortais nunca chegam a alcançar. saberás quão poderosa é a tua mente? pergunto-me se serás feita de pedra nos ossos que alimentam a tua estrutura ou de vazio que te corre nas veias ao invés do sangue que te escorre pelo olhar? afogas-te em lágrimas ou os teus banhos são secos de sal e morte, onde os cremes que te nutrem a pele apenas rasgam ainda mais o que dela se despedaça? alimentas vida nos desejos dos teus sonhos, ou morres em cada passo que tentas dar, sem descobrir que a vida é apenas inútil? é de ti ser cruel, conquistando encobertos horizontes, ou é apenas descomplicada a forma como admiras a paisagem que dança contigo à noite antes de deitares? és a astúcia dos desejos ou a rebeldia dos compromissos? ou um misto de géneros que te deixa encarar a terra como um pedaço de sossego e as pessoas como pedaços desassossegados, no qual não te consegues definir, pois amas o natural mas também desejas o pudico? és de palavras bem ditas ou de sentimentos não ditos, irreais até, que existem para além do que é o ser existente? és a mágoa de perder alguém ou preferirás ser o pior dissabor de um sentimento não comum? és como eu ou és só tu? diferentes em todos os sentidos, sem um toque de homogeneidades subtis? és um pedaço de bronze embutido numa alma de ouro, ou és o chumbo que pesa nos corvos tatuados no teu corpo? és verniz estalado em mobílias antigas que gritam o teu nome, ou és tinta pulsante, rica de odores aborrecidos que se sentem na tua pele? és doença, ou és a cura? é o teu respirar maior que a vontade de morrer, ou são os teus gemidos menores que um coração acabado de morrer? és o que alimentas em mim, ou o que desejas alimentar de ti, como se eu te alimentasse também sem que nada nos fizesse encontrar no mesmo corpo? és tu de mim ou de cada um dos que te tentam, no inferno que nos há-de tornar em despedida, ou na chuva que nos fará chorar perante o frio de tantas almas distantes? és tu tão distinta disto, ou é a tua mente tão imperceptivelmente opaca, que não me deixa ver para lá do sol que te serve de manto?

5 comentários:

  1. Este teu texto fez-me lembrar Bruno Mars com aquela música dele tremendamente conhecida ;) Contudo, tomara ele ter tido as tuas palavras na música. Acho que deixaste bem patente a beleza da imperfeição ou daquilo rotulado como tal. Demonstraste ainda mais a beleza nas palavras, o que é mais importante!Muito bem, mais uma vez! *-*

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  2. Muito bom... Brutal este texto. escreves maravilhosamente e com uma intensidade que se sente.. transparece.

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  3. Desta vez não te consigo comentar.
    Beijinho e espero-te bem.

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  4. Inspiras-te-te em quem, hum?
    Desculpa a ausência.

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  5. brutalmente a chegar aos céus dos ímpares claps e dos negros sentimentos, tão fortes como as almas de que falas. Lindo!

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