Almas

20121216

um presépio de ressaca nossa

um presépio de mortos vivos com luzes de velas gastas. nem vivo, nem morto, não há cor para esta época de paz. as sombras dos pinheiros são mais negras do que a noite e os gritos dos pastores são o canto doce dos demónios de Deus que me gritam aos ouvidos. o que iria eu festejar? a estrela de belém que paira sobre a cabana é hoje apenas um farol que ilumina os piratas em alto mar. brindam esses escravos juntos com a morte que se ri bêbeda com eles. vou juntar-me à festa dessas garrafas, e desta vez não haverá mensagem para enviar em plena madrugada, pois apaguei-te da minha lista preferida. reza a lenda que o amor nasce agora, a loucura dá-se aos homens e a paixão às suas amadas. mas não para mim. não para nós se já esqueceste o meu peito. então o porquê dessa voz tão triste? sou só eu a deixar-me morrer. se não me queres, devo partir para que ames outro ser. quero que vivas a tua felicidade com outro alguém se a mim não desejas. o tempo teima em falar-me de ti, mas pareces-me tão morta. está cinza e turva a imagem com que te vejo. será do tempo que passou desde o nosso último toque? ai agosto o que eu te quero fazer voltar. ai mar que já não me alivias a dor. ai vida, que isto é ver-nos morrer. este vinte e quatro não há prendas para te dar, este mês não há rendas nem meias de vidro para rasgar. o que eu amava esse presente. o que eu amava só te cheirar. o que eu odeio sentir por nós, tão sozinho. o que eu me odeio por nós. palerma, cobarde tão fraco. estúpido, o amor é estúpido e ele não nos conhece. mas a mim, a mim mata-me porque sei quem ele é.

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