Almas

20180718

trans

sou homem de lã e pele índia sem cor
que das asas que broto como ossos que moldam o ar me sento para voar
e folheando seda e cetim, cascas de pinheiro e ouro viajo
entre ser infiel ou mártir
ou lamentar a vida inútil
porque afinal não morri
ó. fácil é chorar [como o barulho que desliga as luzes do olhar para partir].

sou bicho de pau e corpo sem género ou lei
que vacilo e bambuo entre roupas cruas cheiros imundos e suores intensos
e tocando com a ponta dos dedos viajo entre seda e cetim, cascas de pinheiro
entre homens e mulheres
e sexo em que amor é vida
porque afinal não morri
ó. fácil é usar a boca e lamber [como se a alma gostasse de receber. o que o corpo não tem]

sou mulher alheia. das mulheres que me fizeram sem saber
que as sinto e repito como a estrutura de um corpo que se implanta no mar
e recebendo as ondas, todas as ondas são seda e cetim, cascas de pinheiro
entre sal e m[águas]
ou o frio da solidão quando tudo é
porque afinal não morri
ó. fácil é fugir do vento e vender o corpo [como submissa força a quem abusa de mim]

ó. que neutralidade bélica
que é isto de inventar a guerra para fazer revolução?
como é beijar mulheres entre as pernas e sentir-lhes? [o coração na rata]
ou que brutalidade material é ser por ser só eu?
adorar sexos erectos e usa-los como compensação?
que amor próprio ou individualidade freudiana
quero comer-te mãe. quero matar-te pai
quero a dúvida eterna entre ser e sexo
existir e sexo
mentir e género
foder histérico
porque não posso ser mulher
porque não quero ser só mulher
ou o homem que em mim habita
é um traço hábil da emancipação
eu não sou a criação
se não a ordem de mais um dia
em que o colapso é um cérebro sem nexo
de ser a trans-neutralidade
a trans-precariedade
de um salário de puta e fome.
[hoje à noite eu vendo sexo]
por ar-dor, amor e homem(s).

Sem comentários:

Enviar um comentário