Almas

20180717

torre dos sem prisão

São como socos em sacos de papel que guardam ar.
Como se os braços se esticassem no vento para acertar em algo que não está mais lá.
Fugiu. Distante. In-alcançável.
E eu estrabucho dentro das entranhas e ouso gritar-te serenamente para que me ouças.
Mas nada. Do autocentrismo genético eu li as críticas. Mas não há espelhos para a alma se não o tempo a sós.
Eu fui trocado por um gole fresco de tinturas nórdicas e isso fez de mim o vazio.
No momento em que eu me for eu não volto. Mas o meu luto é demorado e junto dos mortos.
Que saudades não existem para mim. Foda-se o compromisso, eu não existo.
Se não sou tempo quando faço de mim relógio e te mostro as horas. Estou farto de ser cobaia. Preciso de algo.
Amar em sonoro só não chega. Não quero foder. Não quero chorar ao teu lado. Não quero mostrar-te prosa.
Isso já perdeste. Foi a primeira das partes que mandaste embora. E está longe.
Confiança. Estabilidade. Tempo. Gestão.
Carrego-me cheio de merdas por dizer para não provocar uma avalanche, mas se me calo recebo bolas de neve que me acertam como balas à queima roupa e eu morro aos bocados.
Que queres de mim? Aquilo que tu escolhes dar? Desculpas?
Sempre me questionei sobre o que era o destino se fingimos ter uma opção a fazer.
Ir ou não ir. Querer ficar parece uma premissa infundada. Meios tempos. Tempos contados. Tempos cortados. Tempos sozinhos. Essa solidão que me assiste quando te tenho. Se te vou perder como me posso entregar?
Não é justo ser uma opção do momento entregue a palavras de vida inteira.
Não te posso chegar perto? Que é isto? Um campo de concentração para sentimentos oprimidos ou a porra de um gulag a quem quer dar tudo o que conhece às bruxas?
E eu não sou magia.
Se não a fogueira que te mata aos poucos.
Ou o fogo que apagas aos poucos.
Eu não sou.
Que é o pai, é a língua é a vida e os afazeres menos eu.
Eu não. Não sou.
Última opção.
E todas as desculpas para não estar comigo se não um resto de instante ao fim da tarde.
Ao fim do dia.
Nada demasiado longo.
Nada demasiado perto.
Eu sou sozinho.
E as pontas de cigarro são o meu pior serão.
Cansei de esperar de ti.
Eu vou foder com o mar.
E misturar-me com a areia.
Mutilações.

em 16-07-2018, 23:42 - praia do cabedelo.

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