Almas

20161209

das palavras que cortam


fomos engolidos pela peste e chamamos-lhe amor.  acordamos nos braços de alguém que não nos quer e pedimos licença para parar a dor que nos atinge.  sufoca.  esmaga.  se são as palavras que nos cortam,  o que são os olhos que nos despem quando o sexo não presta?  que fedor.  sinto a alma partida em pedaços de merda de um animal doente.  morto. apetece-me bater.  em mim mesmo. com um bastão calejado que reúna a força de três deuses e a cobardia de um poeta. quero partir e esquecer que fui alguém com um significado belo.  quero chegar sem ser ninguém para que a expectativa seja a totalidade de um vazio de infinidades. tudo.  nada.  nunca ser um meio termo. preto.  branco.  nunca cinzento. entre  o espaço dos ossos ao coração,  cabem quantos quilos de dor?  é que a noite aperta-me o vício de ser decadente.  se tudo o que é bonito me traz tristeza,  como posso olhar as coisas feias sem ver o final intimo da vida?  o escuro tem muitos nomes,  silêncio.  o escuro tem muitos nomes,  ansiedade.  o escuro tem muitos nomes,  foda-se,  pânico.  o escuro tem muitos nomes, ciúmes. quero ser uma puta e foder com o coração,  enquanto finjo que gosto que finjam que me amam o corpo.  quero ser a morte e sê-la de verdade.  desligar.  terminar.  expirar. desaparecer. indagar a memória. preencher uma caixa de memórias com papel de fotografia. quero ser passado e partir sem ressentimento de sentir que és feliz. sabes que não confio mais em mim para garantir que sou um homem são? sou um homem besta.  não sou um homem.  não sou uma besta, mas faço sentir-me assim e acredito que me perdi algures num tempo melhor que este. o que resta de mim não ficou a salvo. não é são.  não quero parar para descobrir. se parar o tempo agora vou ruir as sobras de mim mesmo.  não posso ouvir que me digam que fiquei novamente partido. não quero saber que parti de novo.  depois de tanto tempo.  contigo.  partido. no chão. não posso admitir que tu, enquanto ser me partiu desde o miolo e me roubou. sou um animal ferido.   estou no chão e não me vejo.  não quero parar para ver como estou.  o que resta. o que sobrou .  se essa puta partir sem mim,  leva-me consigo sem saber.  e eu só quero morrer.  preciso de morrer.  amor,  deixem-me morrer. eu preciso de ir. e. eventualmente.  voltar. a ti. e se estas tuas palavras cortam, é então,  isto, aquilo que mata.

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