Almas

20161003

por extenso


pergunta numero um,
por extenso
que o percurso é longo
e o amor vai morrendo
aos poucos
pedaços de terra que não se casam
não se igualam
estagnaram nesse vale
e o que vale no fim de contas
é o resto
de nada
que nada é amar um,
se não chega
colecciona-se um pedaço de estrela
que o universo vai morrendo
aos poucos
dizem que é a vida
assim será
com o que o tempo nos diz
e tudo o que o tempo dirá
oh vida
eu questionei a tua sina tantas vezes
e que adianta ter uma sina
se é o destino que nos escapa pelos dedos
oh amor
inventaram que era a dor
e o sofrer e o doer e o morrer
mas isso não é amor
então que se aprenda a viver
a partir pra não chegar
a fugir para não apanhar
a correr para não te ter
a morrer para me apagar
e ser a distância entre lágrimas e sorrisos
ser o longe e ser o perto
e não ser opção no momento certo
se opção é um escolher incorrecto
indevido, imperfeito, não concluído
queria chegar-te.
ao ouvido
gemer de dor e dizer
que tenho frio
oh amor
se não me tocas nos pés
tocas nos pés dele
tocas nos teus pés
se são pés que adquiriste para caminhar
contigo
se tenho frio e não tenho ninguém
se tenho amor mas não tenho a tua mão
se tenho casa mas ela está vazia
se tenho casa mas não posso entrar
se tenho fome mas não posso comer
se tenho raiva mas não posso gritar
se tenho amor mas não posso dar
se tenho a ti mas tenho de esperar
para que estejas
para que venhas
para que abras a porta
para quê?
esperar
só, se só ficar
se só não ter mais o que amar
se não a mim
há tanto para me amar
em mim
acima de mim
mas para quê?
se o fim é a morte de mim mesmo
só, poder morrer só
numa noite de amar-me sozinho
sem pés, só os meus
velhinho
porque hoje não era o meu dia
mas era dia de morrer
e tu não estavas
então parti sem te dizer
sem te tocar
sem os teus pés
sem a tua mão
com a tua alma distraída nos pés de alguém
nos que escolheste para caminhar
contigo
assim é não estar sozinho
mas eu estou
bandido
roubei a minha própria glória
e escrevo para me enganar
para fingir que sinto
que minto quando dói mas digo não
quando dói e me queixo sou egoísta
mas há o queixume
há o lume e há ciúme
mas não importa se há pés para te dar
pés para caminhar
pés para andar
o que é uma casa sem andares
na noite em que casares
mas tu não vais casar
comigo
eu não vou casar
contigo
que o divino só quer morrer
amar não é sofrer
mas amar é um percurso longo
que o amor vai morrendo
outro vai nascendo
pergunta numero um,
por extenso
que o percurso é trágico
que o amor é mágico
se só de amor fossemos
ríssemos
se só de amor nos apaixonássemos
morrêssemos
então o que seríamos além da miséria de um cupido
do devaneio de uma reacção química
do estilhaçar de um cometa perdido
do ruído ultra-sónico de um palpitar caótico?
eu sou a vida que escolher
hoje chamo-me persistência
que o amor vai morrendo
mas ninguém sabe a resposta por extenso
ao que eu temo
ao que eu tenho e vou perder
hoje chamo a vida
e liberto-me do passado de mim mesmo
e que seja a vida a pintar a nova dor
se os meus pés vão contigo
e as minhas mãos só te sabem de cor
oh e isso não é dor
é amor
é
hoje chamo-me persistência
é
o que me faz ficar
a deixar ver-te partir
quebrar
se um dia morrer sozinho
numa noite de mansinho
sem pés para me tocar
que não sofras quando me encontrares
pois suspirarei sossegado
por teus pés não me sentirem gelar.
mas o percurso é longo
o tempo é o tempo
o tempo são só segundos
a vida é só o bater do coração
a morte é o fim disso mesmo
o amor não se sabe
e o amor não cabe
pergunta numero um
o percurso é longo
e o amor vai morrendo
e o amor vai persistindo
e o amor vai nascendo
e o amor vai ficando
e eu vou ficando
e tu vais ficando
aos poucos
até quando?
quando
morrermos
não sobrarão pedaços
aos poucos
sobraremos descalços
com os pés
que caminharam juntos
aos poucos
aos poucos
aos poucos
saberei amar melhor
se um amor é pouco
e o percurso é longo.
amemos, por extenso.

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