Almas

20160606

rega-me o pranto


se a alma murchar regamos-lhe o pranto. se o corpo cair enterramo-lo só. se tudo se for e tudo se vai um dia. se tudo ficar "e tudo fica se nenhum de nós ceder". se a alma murchar regamos-lhe o pranto. se as almas murcharem atamo-las ao vento para que partam juntas. acima de todas as coisas abaixo do céu e o que restar acima disso para contemplar. uma alma só. se o tempo não chegar mas a dor for grande. e se o coração partir com os fantasmas  e decidirem caminhar juntos. se precisar de me esconder. se precisar de me esconder de ti, esconder-me-ei dentro de ti. se não tiver onde me esconder então dispo-me e morrerei na tua frente. sem vergonha de ter morrido antes. ou com toda a vergonha de me ter partido. de me ser tão frágil. quantas vezes um cancro há-de vir para me quebrar? não esperar o amor. decidir terminá-lo depois da morte. talvez seja esse o teu segredo, avó. deixar morrer, aceitar a morte e não esperar nenhuma outra. um grande amor e quantos anos resistirá a solidão do corpo? e quantas vezes ainda lhe beijas a alma? quantas vezes te despediste dele depois de morreres tu também? o que sobra? o que resta? é sempre tão mais que nada. "e tudo fica se nenhum de nós ceder". mas a natureza não cede. e por mais que se dobre um dia volta com a força de «Deus». toda poderosa, arruinadora de laços, arremessadora de estilhaços crus. nada mais importa. seja tarde, melhor que nunca e destruir toda a mentira que criei. sem natureza. a tua, desconhecida natureza. mas, segue-a agora e preserva o que melhor de ti terás. e não te percas. deixa-me falhar e eu deixo-te ir. voar. leva-me contigo. termina-me. quando terminares não quererei ser continuado. mas voa, já devias ter voado. talvez antes de eu chegar. talvez para me renascer. das cinzas. fénix. quando me chamas nomes bonitos. Deusa. Vénus de Seda. Alma de Júpiter. Papel de Renda. Meu Pedaço. teu, kowo. até minha alma murchar. rega-me o pranto.

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